Dislexia tem tratamento
O livro recém-lançado João, preste atenção!, de Patrícia Secco, traz a história de um garoto de nove anos que aprende a lidar com a dislexia e se torna bom aluno.
Doença perceptível na alfabetização pode ser contornada; é só prestar bastante atenção!
por Karen Borowski
Seu filho costuma ler devagar, silabadamente, e está abaixo da escolaridade normal? Esses sintomas podem dizer que ele é disléxico. Dislexia não tem nada a ver com incapacidade intelectual.
A dislexia é uma doença comum, que, como outras, podem ser tratadas. Seus primeiros indícios costumam estar relacionados ao atraso de linguagem, à troca de letras na fala e à dificuldade na nomeação. Na pré-escola, as crianças disléxicas costumam apresentar dificuldades em aprender os nomes das letras e das cores e em pronunciar as palavras.
Estudo realizado pela médica Sally Shaywitz, da Universidade de Yale [EUA], mostra que os disléxicos possuem um sistema neural diferente para leitura. Os disléxicos sub-ativam a parte posterior do cérebro e tendem a superativar as áreas frontais. Os não-disléxicos respondem melhor ao estímulo da leitura e ativam mais rapidamente a área posterior.
O IDA [International Dyslexia Association] apresentou a definição mais recente que se usa para tratar da dislexia. Baseada em dados de 2002, a associação conceitua a doença como um distúrbio de aprendizagem que tem origem neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de reconhecer com precisão ou fluência as palavras e pelo fraco desempenho ortográfico e de decodificação
Essas dificuldades em geral resultam tanto de um déficit inesperado – se comparando as outras capacidades cognitivas – no componente fonológico da linguagem quanto da fala de um ensino eficaz em sala de aula. As conseqüências secundárias podem incluir problemas na compreensão do que se lê e redução da experiência de leitura, o que pode impedir o aumento do vocabulário e do conhecimento em geral.
O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para fazer o diagnóstico adequado a partir da suspeita de dislexia. Outros sintomas são: permanência de leitura lenta e silabada ou em nível abaixo do esperado para a escolaridade; medo de ler em voz alta; substituições, omissões e repetições; dificuldade em reconhecer palavras familiares e freqüentes; fazer muitas repetições e interrupções durante a leitura; depender do contexto para a compreensão do que lê; desempenho desproporcionalmente fraco em teste de múltipla escolha e incapacidade de terminar os testes no horário estabelecido.
_depoimentos
"Descobri que tinha dislexia na faculdade. Não fiz tratamento, mas arrumei uma forma de compensação automática. A vida inteira tive dificuldade com algumas palavras. Quando não sabia a grafia, arrumava um sinônimo que sabia escrever ou mudava a frase de forma que não precisasse da palavra. Ainda faço isso hoje com freqüência", conta a estudante de psicologia Lorena Batista Torres, de 21 anos.
A dislexia é hereditária. De 23% a 65% das crianças com pais disléxicos podem desenvolver a desordem, segundo Lewis e Simpson. Uma prova é que o irmão de Lorena, Vinícius Batista Torres, 22, sofre do mesmo problema e, apesar de ser mais velho, foi diagnosticado quando ainda era criança, aos 7 anos, quando estava na primeira série do ensino fundamental.
Seu tratamento incluiu sessões com psicóloga, com psicopedagoga – para ajudar na alfabetização – e estudar em uma escola especializada, onde havia apenas seis alunos por classe. O tratamento durou dois anos e meio. No início, ele lia e soletrava, mas não conseguia escrever o próprio nome corretamente. Apesar da melhora impressionante, ele ainda tem muita dificuldade com a linguagem. Hoje ele ainda erra ortografia e tem problemas com a fala por isso pensa em fazer um tratamento com fonoaudióloga.
Ser um mal aluno acaba desestimulando o estudo por isso muitos portadores da doença acabam abandonando a escola e as ambições profissionais da vida adulta. Para Maria Ester Borlido, diretora da AND [Associação Nacional de Dislexia], se for orientando corretamente, o aluno poderá ser bem-sucedido na escola. Ela alerta: “Para isso é necessário que o professor seja sensível e interessado”. Existem vários sinais que são perceptíveis desde a pré-escola.
Se as escolas, por meio de seus orientadores, passassem essas informações aos professores para que eles encaminhassem a criança com dificuldades ao fonoaudiólogo, muitos casos poderiam ser tratados, diz ela, que trabalha com disléxicos há 29 anos.
"Meu homeopata me ajudou a descobrir que tenho uma mente disléxica e me encaminhou para uma oftalmologista, com quem descobri o que era a doença", diz o engenheiro e economista Alfredo Martins Sobral, de 46 anos. "Isto aconteceu em junho de 2006. A questão é minha desorganização, que reflete nas minhas atividades cotidianas. Vinha fazendo terapia há mais de dois anos. Agora tenho consciência do meu problema e finalmente começo a adquirir habilidades para lidar com a minha própria vida", conta.
_Dicas para combater a dislexia
Ler histórias compreensíveis para a idade da criança ajuda a enriquecer o vocabulário
Faça da leitura um hábito. Peça para a criança ler textos do seu interesse durante 10 minutos por dia
Brinque com jogos educativos e softwares em família. Eles desenvolvem a leitura, a memória, a atenção e outras áreas importantes do cérebro
Use computador e gravador, principalmente para digitar textos, resumir matérias e gravar aulas
Mostre conceitos abstratos, como água saindo do estado líquido para vapor. Exemplos visuais são mais fáceis de ser compreendidos
FONTE DE PESQUISA:Postado por DIS.LEXICOS@IBA_SEUS_DIREITOS